terça-feira, 28 de junho de 2016

Soneto dois por cinco.

Retângulo: ângulos retos,
Quatro lados paralelos
Dois lados na horizontal,
Outros dois na vertical.

Dois por cinco, o tamanho.
Dentro dele, várias coisas:
Colheres, calor, pratos,
Fumaça, ralador e mudez.

Área pequena com pouco espaço,
Mas ainda cabiam mais duas pessoas,
A distância entre elas? Quilômetros.

O barulho do liquidificar não abafava
O grito ensurdecedor do silêncio
O calor da chapa, não desfazia o gelo.

O quadro do fogão nunca foi tão grande,
Amigos, antes ângulos,
Hoje, desconhecidos paralelos. 

terça-feira, 21 de junho de 2016

Fim da escravidão - 1888, mas e hoje?

O ano é1888, o dia, 13 maio, a notícia: a Princesa Isabel assinava a Lei Áurea. O fato: juridicamente era decretado o fim da escravidão. Os motivos: por pressões externas das potências liberais (entre outras: Inglaterra e EUA) que precisavam construir/ampliar o mercado consumidor, o qual, o trabalho assalariado ajudaria a movimentar a economia de consumo. O resultado fictício: o Brasil abolia a escravidão.

Como resultado de uma elite, intelectualmente e economicamente atrasada, a sociedade brasileira alicerça-se no racismo estrutural e institucionaliza-o. A pseudo liberdade, afirmada na Lei Áurea, não se refletiu em liberdade real, e ainda hoje, recebemos as chibatadas dos senhores em nossas costas. 

A banda “O Rappa” canta: "Todo camburão tem um pouco de navio negreiro", retratando a vida de homens e mulheres, que devido à pigmentação da pele, sofrem diariamente a opressão secular do racismo em uma sociedade estruturada em uma mentalidade escravista, mostrando que só se modernizou, mas que ao senhores e os capitães do mato, continuam presentes. 

Assim, completamos 128 anos, da promulgação da Lei Áurea, contudo o racismo e o preconceito imperam e as políticas afirmativas são nulas, se comprarmos como países como Estados Unidos e África do Sul.

Ao contrário desses países, damos passos à trás, como no dia 13 de maio, desse ano, quando Presidente (Golpista) em exercício da República, extinguiu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, mostrando que as poucas políticas públicas que se estruturam como consequência da luta contra o racismo e da opressão nos vários âmbitos da sociedade brasileira incomoda muito a elite e “class media”, que permanece com o mesmo pensamento retrógado do século passado.

Nesse sentindo, o cinismo do mito racial, apresentando em “Casa Grande e Senzala” ajuda a invisibiliza as opressões e agressões que sofremos diariamente, mascarando o racismo e tornando-o mais difícil de ser combatido.

Em um momento tenebroso, no qual, as 23 pessoas mais importantes do país são: homens, brancos e representantes dos setores mais atrasado da elite nacional, devemos esperar retrocessos e ataques aos conjuntos dos direitos conquistados ao longo da última década, ataques que serão maiores, do que os promovidos pelo Governo do PT/PMDB.

No entanto, outra canção, agora da banda “Nação Zumbi”, nos dá uma pista "d(o) que fazer"(?) (só para lembrar de Lenin, também): “Me organizando, eu posso desorganizar. Da lama Aos Caos, do Caos a Lama!”



"Salve zumbi! Somos todos os Panteras Negras!"



Indícios.

A chaminé vomitando fumaça, 
A contemplação do firmamento estrelado, 
A escrita na madrugada,

São indícios:


De homens trabalhando, 
Do dia que não raiou, 
Do amor que se foi.

Não sou bom em nada.

Não sou bom em nada...
Não danço bem,
Canto pior ainda,
Mas ainda sim tento.

Não escrevo bem...
Rabisco sentimentos.
Tentativas de tradução
De línguas sem compreensão.

Não sou bom em nada...
Então, me esforço em tudo.
Isso me deixa paz...

Paz que se vai,
Frente às desigualdades desse mundo.
O que me resta? Lutar...

Mas, não sou bom em nada,
Isso me faz bom em uma coisa...
Em não desistir de tentar,
O que quero mudar.

O Sonho.

Acordo atrasado, ainda e noite
A lua ainda brilha
E o galo canta.

Na esquina trabalhadores
Vestido com suas camas
E encorajados pela necessidade.

Ainda é noite, mas não durmo...
No calor aconchegante, cochilo.
Acordo assustado
Com ninar do coletivo lotado.

A essa altura, já é dia!
Nos rostos, os sonhos
De quem não aguenta mais
Ser tratado como coisa.

Oh, povo valente, não desiste!
Pois significaria deixar existir.
Entre um dia e outro, poucas horas
De sono mal dormido.

Mas sonhamos o dia
Em que o capital,
Não atrapalhe o sono,
Mas enquanto isso...

Lutaremoas acordado
para o dia em que o labor
Não será um fardo,
E sim, nos humanize. 

Coragem

Não tive coragem de ler;
Não tive coragem de escrever; 
Não tive coragem de morrer;
Por isso, vou fazer quase tudo isso!

Hoje sei que a coragem não estava em morrer
Ela está em viver todos os dias, sabendo quê: 
Pessoas não comem, não têm lar, não são vistas, 
São abusadas, são maltratadas e são mortas. 

Viverei para ler e para escrever, esse e outros. 
Viverei para sorrir, para chorar e para amar, 
Viverei para me reinventar, para me solidarizar. 

A coragem está em mantemo-nos vivos, 
Desajustados, sensíveis e empáticos nesse mundo. 
A coragem não é descansar com os mortos, e sim, lutar com os vivos.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Será que queremos?

As relações humanas estão cada vez mais fugazes e superficiais, é isso o que mais escuto nos últimos tempos, em um tom de reprovação e desânimo. Eu concordo e ouso afirmar, que não só as relações afetivas, nas quais, as pessoas se relacionam sexualmente, mas também, nas relações afetivas de amizade, em que esse contato físico não existe. A pergunta que aparece é: Apesar de reclamarmos, será que estamos dispostos a abrir mão da facilidade das relações superficiais e investir em relações profundas e significativas?

Uma das principais características da modernidade é velocidade, o encurtamento do espaço/tempo, permitindo assim, que a comunicação aconteça cada vez mais rápida. Isso não seria um problema, se uma das outras características da modernidade, não fosse o consumismo desenfreado de uma sociedade capitalista e selvagem.

Esses dois elementos influenciam cada vez mais na construção das relações humanas. O Sociólogo Alemão, Simmel, nos ajuda a pensar com duas afirmações, a primeira, que o Deus da modernidade é o dinheiro. A segunda, diz respeito ao flerte, como marca da sociedade urbana, pois com o aumento da circulação das pessoas e relação do tempo nas grandes cidades tornou-se cada vez mais dinâmico e o contato com as pessoas tornava-se  cada vez mias fugazes;  um simples trocar de olhares, um sorriso ao cruzar os caminhos, relações que nunca passariam disso, contudo é importante ressaltar que Simmel faleceu em 1918.

O passar do tempo só aprofundou esses dois elementos. Quero chamar atenção à ideia do flerte agora, pois esses encontros ocorriam no corre-corre dos grandes centros urbanos, um lugar concreto, onde as pessoas se olhavam, dependendo da distancia sentiam seus cheiros, e/ou ainda se esbarravam.

Hoje os flertes ocorrem de forma ainda mais efêmeras, no conforto da cama ou do sofá enquanto se assiste a um filme ou se conversa com amigos. Entre o "X" e o “coração”, na verdade o botão do descarte ou do consumo. A tecnologia permitiu que o flerte dos grandes centros urbanos, e se deslocasse para o espaço da virtualidade, no qual, as pessoas não necessitam estarem conectadas para que o flerte ocorra, apenas, georreferenciadas.

Do outro lado, as relações sociais cada vez mais mediadas pelo dinheiro apontam para níveis de consumo cada vez maior. O problema mais grave! Não consumimos somente coisas, agora consumimos pessoas e as descartamos com mais facilidade do que os objetos.

Esse grande cardápio virtual de pessoas, aliado a um espírito de consumo voraz, torna as relações cada vez mais efêmeras e rasas. Sobre isso, Bauman nos diz sobre a dificuldade de abrirmos mão das inúmeras possibilidades de relações, na lógica do consumo e do descarte para investir na construção de relações profundas e com sentido.
O importante e triste é que não me refiro só às relações afetivas entre casais, me refiro também às relações de amizade, pois ambas necessitam de tempo e cuidado no seu cultivo para que possam florescer.

Nesse sentindo, temos que perguntar a nós: realmente estamos prontos para construir as relações que dizemos querer? Estamos pronto para abrir mão do utilitarismo e construirmos relações intensas e profundas?

As relações e a compreensão delas, estão tão superficiais, que as declarações de amor, na maioria das vezes, são vistas como démodé entre os casais (com exceção do Dia dos Namorados e datas comemorativas) e impossíveis de acontecerem entre amigos, caso não haja algum envolvimento sexual.

Temos que regar o terreno para que esteja sempre fértil, a fim de cultivarmos novas relações, as quais germinem, cresçam durante o outono e o inverno e possam florescer em amor na primavera. Hoje tenho a alegria de poder dizer: “Eu te amo” com frequência às pessoas que amo. E o mais importante não é somente dizer é poder demonstrar.

É claro, que não afirmo que seja fácil e nem indolor, pois concordo que às relações estão cada vez mais baseadas na coisificação do outro, no consumismo e no descarte. Propori-se-a estar no mundo de outra forma, é estar disposto a se machucar e se magoar! Mas é também poder contar com aquelas pessoas que constroem relações profundas e mútuas para não deixar o jardim da vida ressacar e morrer, permitindo que não só floresça “marias” e Margaridas, mas também Lírios, Rosas e Jasmins e tantas outras flores possíveis. 

Angústia.

A cama, o local de descanso e alento,
Mas quando deito e o sono desaparece
Eu sei o que há de errado, esse pensamento...
Há dias não me deixa e essa noite já o pertence.


A sensação de impotência me paralisa.
Faz-me andar em círculos pelo apartamento.
Só não dou mais voltas do que minha cabeça!
Ah, essa pobre, gira, gira e não sai do lugar.

Cria cenários, vários, mas como de costume...
Apego-me aos piores, acredito no conforto...
O conforto da tragédia anunciada e esperada.

Mitigada pela certeza do desastre...
Experiências de vidas passadas? Que nada!
Muitos tropeços na mesma vida errante, que provoca:

A angústia pela distancia do outro,
A agonia pelo silêncio do outro,
A aflição pela ausência do outro.

O triste é saber que o problema não é o outro. Sou eu!
Mas o que fazer com esse pensamento que me consome
Durante do dia e não deixa dormir durante a noite?


Organizo-o em caixas e prateleiras durante o dia,
Racionalizo, cada qual no seu lugar, cada sentimento
Na prateleira de acordo aos cenários construídos.

Assim, as horas passam e o dia se vai.
Dias que não me pertencem, pois têm sido
Roubados e furtados sistematicamente. 


E assim a noite chega, sem que o dia tenha passado, 

E na hora do descanso e do alento,
Os pensamentos pulam das caixas e voam das prateleiras. 


A confusão, a agonia, o aperto no peito... 

Mais uma noite será roubada, mas nessa será diferente
Não rolarei inutilmente de um lado ao outro da cama.

Essa noite haverá disputa! Não será fácil.
A luta entre a angústia e a poesia,
Entre o branco do papel e o caos do pensamento.

Mas como escreveria Deleuze e Guattari,
O caos é potência, é vida! E certamente sem o caos
Esses sentimentos não estariam no papel
E estaria eu, em um sono de calmaria!

Tolerância = EU NÃO ACEITO, MAS EM UM ATO DE SUPERIORIDADE, EU DESCULPO/PERDOU, POIS EU NÃO POSSO MUDAR ISSO EM VOCÊ!

O ataque em Orlando a pessoas homossexuais, com 50 mortos e 53 feridos, chocas, entristece, sensibiliza e recoloca o debate da homofobia ao conjunto da sociedade. O Brasil nunca esteve tão próximo de Orlando, quando hoje.

No Brasil, a cada hora uma pessoa homossexual é agredida, havendo quase 01 morte por dia (326 mortes em 2014, 318 mortes em 2015). Além de solidarizarmos e entristecermos com ocorrido em Orlando, temos a obrigação de discutir e polemizar a questão.

Em quando acharmos normal “tolerar” pessoas pela sua religião, pele sua etnia, cor de pele ou por sua orientação sexual, continuaremos a assistir esses espetáculos de violência gratuita, nessa sociedade, a qual é completamente e cada vez mais desumana.

Nesse contexto social, a utilização do termo: “tolerância” parece um avanço enorme, quando na verdade ele camufla o preconceito, pois trata de um ato de indulgência (que significa: disposição para perdoar culpas ou erros; clemência, misericórdia, absolvição de pena, ofensa ou dívida; desculpa, perdão) de que não se quer ou não se pude mudar. Isso significa dizer que ser tolerante à homossexualidade é: EU NÃO ACEITO A ORIENTAÇÃO SEXUAL, MAS EM UM ATO DE SUPERIORIDADE, EU DESCULPO/PERDOU, POIS EU NÃO POSSO MUDAR ISSO EM VOCÊ!

O problema que indulgências, clemências e misericórdias são caridade e não direito. Isso significa que a qualquer momento pode ser retiradas e quando alguém não tolera mais ela pode matar 50 pessoas de uma vez, ou ainda, matar em doses homeopáticas, uma por dia como acontece no Brasil.

Não devemos tolerar, devemos tratar todas as diferenças no campo do direito, no qual, somos todas e todos iguais (ou deveríamos ser). E antes de reclamar do politicamente correto, pergunte-se: Quanto a sua a homofobia mata por dia? Quanto o seu racismo mata por dia? Quanto o nosso machismo mata por dia? 

Depois e só depois, pense em questionar sobre o posicionamento político das pessoas e dos movimentos sociais. “Lutar peal igualdade sempre que as diferenças nos discriminem, lutar pelas diferenças sempre que a igualdade nos descaracterize.”

Quem diria!

As pessoas dizem ter borboletas na barriga...
Já as minhas, ficam alojadas no peito,
Entre o ar e o sangue, isso, bem ali!

Ah, e quando aparecem, causam uma confusão tamanha!
Mas quem diria que elas iriam voltar a voar aqui,
Habitar um espaço que outrora não havia flores e que a vida findava.

E elas, as borboletas, me fizeram experimentar, 
O peso que suas assas trazem, e junto, descobri,
Que dieta ou corrida no mundo é capaz de diminuir esse peso,
A areia que cai da ampulheta, só isso, deixa à vida mais leve. 

Mas essas borboletas... Nunca foram minhas amigas!
O balé das suas assas no peito, provoca uma angústia
Sempre trazendo indagações... Como essa...
Trocaria uma amizade por uma noite?

Como trocar um abraço carinhoso e um choro empático,
Uma música, conversas densas e sorrisos por uma noite?
Isso não cabe em uma noite, precisam de noites e dias.
Isso cabe em uma vida, cabe nos afetos, cabe nos cuidados.

Como trocar tudo isso por uma noite?
Por que trocar a construção de uma amizade
Pela efemeridade de uma noite?
Ah, essa angustia...

Malditas borboletas que não me trazem paz...
Mas me trazem vida,
Assim, do jeito que ela sempre existiu para mim, 
Incômoda, truculenta e intensa!
x

Boemia.

Hoje a noite foi da Lua,
Saiu sem hora de voltar,
Dançou com o véu do firmamento

Caiu bebendo com as estrelas.

E quando todas se foram,
Só ela se manteve de pé,
E bebendo mais uma dose,
Viu ao longe, aproximar-se o Sol.


Então entendeu que seria a saideira
Bebeu de uma vez sua dose,
Mas pensou na enorme besteira.

Quem disse que tenho que ir?
Hoje terá noite com Sol,
Ou dia com Lua!