segunda-feira, 20 de junho de 2016

Será que queremos?

As relações humanas estão cada vez mais fugazes e superficiais, é isso o que mais escuto nos últimos tempos, em um tom de reprovação e desânimo. Eu concordo e ouso afirmar, que não só as relações afetivas, nas quais, as pessoas se relacionam sexualmente, mas também, nas relações afetivas de amizade, em que esse contato físico não existe. A pergunta que aparece é: Apesar de reclamarmos, será que estamos dispostos a abrir mão da facilidade das relações superficiais e investir em relações profundas e significativas?

Uma das principais características da modernidade é velocidade, o encurtamento do espaço/tempo, permitindo assim, que a comunicação aconteça cada vez mais rápida. Isso não seria um problema, se uma das outras características da modernidade, não fosse o consumismo desenfreado de uma sociedade capitalista e selvagem.

Esses dois elementos influenciam cada vez mais na construção das relações humanas. O Sociólogo Alemão, Simmel, nos ajuda a pensar com duas afirmações, a primeira, que o Deus da modernidade é o dinheiro. A segunda, diz respeito ao flerte, como marca da sociedade urbana, pois com o aumento da circulação das pessoas e relação do tempo nas grandes cidades tornou-se cada vez mais dinâmico e o contato com as pessoas tornava-se  cada vez mias fugazes;  um simples trocar de olhares, um sorriso ao cruzar os caminhos, relações que nunca passariam disso, contudo é importante ressaltar que Simmel faleceu em 1918.

O passar do tempo só aprofundou esses dois elementos. Quero chamar atenção à ideia do flerte agora, pois esses encontros ocorriam no corre-corre dos grandes centros urbanos, um lugar concreto, onde as pessoas se olhavam, dependendo da distancia sentiam seus cheiros, e/ou ainda se esbarravam.

Hoje os flertes ocorrem de forma ainda mais efêmeras, no conforto da cama ou do sofá enquanto se assiste a um filme ou se conversa com amigos. Entre o "X" e o “coração”, na verdade o botão do descarte ou do consumo. A tecnologia permitiu que o flerte dos grandes centros urbanos, e se deslocasse para o espaço da virtualidade, no qual, as pessoas não necessitam estarem conectadas para que o flerte ocorra, apenas, georreferenciadas.

Do outro lado, as relações sociais cada vez mais mediadas pelo dinheiro apontam para níveis de consumo cada vez maior. O problema mais grave! Não consumimos somente coisas, agora consumimos pessoas e as descartamos com mais facilidade do que os objetos.

Esse grande cardápio virtual de pessoas, aliado a um espírito de consumo voraz, torna as relações cada vez mais efêmeras e rasas. Sobre isso, Bauman nos diz sobre a dificuldade de abrirmos mão das inúmeras possibilidades de relações, na lógica do consumo e do descarte para investir na construção de relações profundas e com sentido.
O importante e triste é que não me refiro só às relações afetivas entre casais, me refiro também às relações de amizade, pois ambas necessitam de tempo e cuidado no seu cultivo para que possam florescer.

Nesse sentindo, temos que perguntar a nós: realmente estamos prontos para construir as relações que dizemos querer? Estamos pronto para abrir mão do utilitarismo e construirmos relações intensas e profundas?

As relações e a compreensão delas, estão tão superficiais, que as declarações de amor, na maioria das vezes, são vistas como démodé entre os casais (com exceção do Dia dos Namorados e datas comemorativas) e impossíveis de acontecerem entre amigos, caso não haja algum envolvimento sexual.

Temos que regar o terreno para que esteja sempre fértil, a fim de cultivarmos novas relações, as quais germinem, cresçam durante o outono e o inverno e possam florescer em amor na primavera. Hoje tenho a alegria de poder dizer: “Eu te amo” com frequência às pessoas que amo. E o mais importante não é somente dizer é poder demonstrar.

É claro, que não afirmo que seja fácil e nem indolor, pois concordo que às relações estão cada vez mais baseadas na coisificação do outro, no consumismo e no descarte. Propori-se-a estar no mundo de outra forma, é estar disposto a se machucar e se magoar! Mas é também poder contar com aquelas pessoas que constroem relações profundas e mútuas para não deixar o jardim da vida ressacar e morrer, permitindo que não só floresça “marias” e Margaridas, mas também Lírios, Rosas e Jasmins e tantas outras flores possíveis. 

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