As relações humanas estão cada vez mais fugazes
e superficiais, é isso o que mais escuto nos últimos tempos, em um tom de
reprovação e desânimo. Eu concordo e ouso afirmar, que não só as relações
afetivas, nas quais, as pessoas se relacionam sexualmente, mas também, nas relações
afetivas de amizade, em que esse contato físico não existe. A pergunta que aparece é: Apesar
de reclamarmos, será que estamos dispostos a abrir mão da facilidade das
relações superficiais e investir em relações profundas e significativas?
Uma
das principais características da modernidade é velocidade, o encurtamento do
espaço/tempo, permitindo assim, que a comunicação aconteça cada vez mais
rápida. Isso não seria um problema, se uma das outras características da modernidade,
não fosse o consumismo desenfreado de uma sociedade capitalista e selvagem.
Esses
dois elementos influenciam cada vez mais na construção das relações humanas. O
Sociólogo Alemão, Simmel, nos ajuda a pensar com duas afirmações, a primeira,
que o Deus da modernidade é o dinheiro. A segunda, diz respeito ao flerte, como marca da sociedade urbana, pois com o aumento da circulação das pessoas
e relação do tempo nas grandes cidades tornou-se cada vez mais dinâmico e o contato com as pessoas tornava-se cada vez mias fugazes; um simples trocar de olhares, um sorriso ao cruzar os caminhos, relações que nunca passariam disso, contudo é importante ressaltar que Simmel faleceu em 1918.
O
passar do tempo só aprofundou esses dois elementos. Quero chamar atenção à
ideia do flerte agora, pois esses encontros ocorriam no corre-corre dos grandes
centros urbanos, um lugar concreto, onde as pessoas se olhavam, dependendo
da distancia sentiam seus cheiros, e/ou ainda se esbarravam.
Hoje
os flertes ocorrem de forma ainda mais efêmeras, no conforto da cama ou do sofá enquanto
se assiste a um filme ou se conversa com amigos. Entre o "X" e o “coração”,
na verdade o botão do descarte ou do consumo. A tecnologia permitiu que o
flerte dos grandes centros urbanos, e se deslocasse para o espaço da
virtualidade, no qual, as pessoas não necessitam estarem conectadas para que o
flerte ocorra, apenas, georreferenciadas.
Do
outro lado, as relações sociais cada vez mais mediadas pelo dinheiro apontam
para níveis de consumo cada vez maior. O problema mais grave! Não consumimos somente
coisas, agora consumimos pessoas e as descartamos com mais facilidade do que os
objetos.
Esse
grande cardápio virtual de pessoas, aliado a um espírito de consumo voraz, torna as relações cada vez mais efêmeras e rasas. Sobre isso, Bauman nos diz
sobre a dificuldade de abrirmos mão das inúmeras possibilidades de relações, na
lógica do consumo e do descarte para investir na construção de relações
profundas e com sentido.
O
importante e triste é que não me refiro só às relações afetivas entre casais,
me refiro também às relações de amizade, pois ambas necessitam de tempo e
cuidado no seu cultivo para que possam florescer.
Nesse
sentindo, temos que perguntar a nós: realmente estamos prontos para construir
as relações que dizemos querer? Estamos pronto para abrir mão do utilitarismo e
construirmos relações intensas e profundas?
As
relações e a compreensão delas, estão tão superficiais, que as declarações de amor,
na maioria das vezes, são vistas como démodé entre os casais (com exceção do Dia
dos Namorados e datas comemorativas) e impossíveis de acontecerem entre amigos,
caso não haja algum envolvimento sexual.
Temos
que regar o terreno para que esteja sempre fértil, a fim de cultivarmos novas
relações, as quais germinem, cresçam durante o outono e o inverno e possam
florescer em amor na primavera. Hoje tenho a alegria de poder dizer: “Eu te amo”
com frequência às pessoas que amo. E o mais importante não é somente dizer é
poder demonstrar.
É
claro, que não afirmo que seja fácil e nem indolor, pois concordo que às
relações estão cada vez mais baseadas na coisificação do outro, no consumismo e
no descarte. Propori-se-a estar no mundo de outra forma, é estar disposto a se
machucar e se magoar! Mas é também poder contar com aquelas pessoas que
constroem relações profundas e mútuas para não deixar o jardim da vida ressacar
e morrer, permitindo que não só floresça “marias” e Margaridas, mas também Lírios, Rosas e Jasmins e tantas outras flores possíveis.
Como sempre, muito bom!
ResponderExcluirAdorei poder ler suas coisas num blog agora ❤
Obrigado! Você me incentivou, lembra!
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