segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Aprendizado

Não comprei o carro que queria,
Mas comprei um parecido.
Não moro onde queria,
Mas moro perto de onde quero.

O apartamento também não era esse...
Mas me serve muito bem!
A vida de boa parte das pessoas é assim,
Substituem coisa que querem, pelas que podem ter.

Isso não é um problema, pois são objetos,
Mercadorias, comidas ou coisas...
O problema  é quando se faz isso com pessoas...

Qual o sentindo de estar com alguém,
Quando você queira estar com outra pessoa? 
Esteja com quem quer, ou fique só.

Mas não faça das pessoas, coisas ou objetos.
Não as faça de peças de reposição.
Não custa dinheiro, somente o isolamento.

sábado, 15 de outubro de 2016

Dor

Perdi o meu amor, mas não foi um amor...
Foi o meu amor, aquele da vida!
O que você passa a vida inteira procurando...
Eu achei, mas o perdi... Minha culpa!

Hoje o que resta dele são lembranças.  
As quais aparecem nos lugares simples da vida:
Um ponto de ônibus, um comentário aleatório,
Ou em qualquer outra coisa do cotidiano.

Lá está a presença dela. Isso me machuca,
Entristece-me e por vezes, me faz chorar.
Essa dor lancinante me toma o corpo.

Contudo, tem horas que sinto que posso deixar ir,
Abrir-me ao mundo e seguir em frente...
Caminhar e deixar o caos da vida fluir em mim.

Mas não o faço, porque sou mesquinho...
Não quero perder mais nada dela, o pouco que me resta...
Se abrir mão disso, dessa dor. O que me sobra?
Acho que o sofrimento da tortura é melhor que a paz da ausência. 


quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Agosto, o mês que não terminou! Fora Temer!

Primeiramente, Fora Temer! 

A jovem e frágil democracia brasileira sofreu mais um golpe. O processo de impedimento, concluído hoje, marca mais uma triste página da política brasileira, abrindo margem à retirada de mais direitos e conquistas garantidas ao longo dos anos.

Ser contra o impedimento da ex-presidenta Dilma Rousseff, não significava defender seu governo em nenhum âmbito, mas sim, defender o processo de consolidação da frágil democracia brasileira, a qual, dos vinte e cinco presidentes, sendo Dilma a única mulher no cargo, apenas cinco, completaram seus mandatos. Assim, a regra, é a exceção.

O período que antecedeu o processo de impedimento, concluído hoje, ao meu ver, ocorreu um equívoco do conjunto da esquerda (com raras exceções), a qual, não conseguiu se organizar e construir um enfrentamento real ao golpe institucional, por um único motivo: vontade!

As políticas de autoconstrução das organizações da esquerda, não permitiu que propusessem ações concretas para enfrentar o golpe. As palavras de ordem não passaram de mera propaganda na tentativa de crescimento das organizações. Disputando a "coroa" da organização mais revolucionária. 

A afirmação de que não havia a possibilidades de defender o governo do PT e a Dilma, do meu ponto de vista é correta, pois as medidas econômicas neoliberais, a retirada de direitos, as nomeações para ministérios e alianças com o que há de mais sujo na política brasileira foi feita. Concordo que o governo do PT e a Presidenta usou a Força de Segurança Nacional para reprimir as Jornadas de Junho, que se estenderam por: julho, agosto, setembro e outubro. O que não significa que não deveríamos enfrentar e propor saídas para golpe.

Respirei gás lacrimogêneo com tantas outras companheiras e tantos outros companheiros por todos os meses das jornadas de Junho. Ah, também respirei gás lacrimogêneo nos anos que antecederam-nas: na manifestação no sorteio das chaves da Copa do Mundo da FIFA e também quando participei da ocupação ao Ministério das Cidades em Brasília, isso só para citar os enfrentamentos direto com o aparato repressivo do Executivo Federal. últimas.

Assim, com toda tranquilidade, defendi e defendo o “Fora Temer”, não por acreditar que o PT defendeu, nos seus catorze anos de governo, o interesse da classe trabalhadora, mas sim, por compreender, que as garantias constitucionais é uma vitória das trabalhadoras e trabalhadores, as/os quais, muitas e muitos perderam suas vidas, lutando para que fossem institucionalizadas.

A situação para as pessoas mais fragilizadas na pirâmide social irá se agravar nos próximos anos. Enquanto isso, uma parte das direções das organizações da esquerda, que há décadas não exercem uma função laboral, que não seja na superestrutura das burocracias sindicais e partidárias e os ultraradicais “Starbucks”, os quais acreditam que, quando pior melhor, se esforçam para justificar sua apatia frente à situação atual!

O processo iniciado, em junho de 2013, teve mais um desdobramento consumado hoje, mas segue aberto... E o que mais me assusta?  Eu assisti “Ingmar Bergman”!


quinta-feira, 18 de agosto de 2016

"O tempo das solidariedades automáticas e das oposições sistemáticas não existe mais. Esse conforto acabou."

A notícia do menino sírio, coberto de sangue, nos jornais de hoje, me remeteram ao artigo do Lemond Brasil: “Como escapar da confusão política” (Maio, 2015, p.12/13), o qual descreve as políticas econômicas e suas alianças internacionais, fazendo a afirmação que intitula esse texto.

O conforto das oposições sistemáticas e apoios automáticos se foram. O que significa dizer, que ter uma compreensão do mundo coerente exige um esforço muito maior, devido às relações econômicas e de cooperação complexa estabelecidas internacionalmente.

É claro que para se revolta, entristecer, indignar e solidarizar com Omran, catatônico e coberto de sangue, não precisamos de uma leitura das relações internacionais, ainda bem.  Só precisamos de empatia, o que, diga-se de passagem, nos dias de hoje, é bem difícil também.

Em tempos de olimpíadas, no qual, o espírito olímpico seletivo e o ufanismo rechaçam posturas como a do lutador de judô egípcio que se negou a cumprimentar o “adversário” israelense. Faz-se necessário compreender as relações que acontecem no mundo e entender que o circo olímpico não acontece descolado da realidade das pessoas.


E como infelizmente sabemos, “o senhor da guerra não gosta de crianças”. 


terça-feira, 26 de julho de 2016

Alquimia

As pessoas que choram são mais felizes.
Não porque elas choram de alegria,
E sim, porque elas não mantêm em si
Os sentimentos represados dentro do peito.

Estão-se felizes, elas choram,
Se estiverem tristes, choram,
Sentem dor, choram
Diluem o sentimento em água,
Apesar de continuarem sentindo.
Mas o transforma em fluxo harmonioso.

Mas as pessoas que choram...
Nunca saberão a dor que é não chorar
Não falo da lágrima que escorre do canto do olho...
Falo de chorar! Perder as forças chorando. Soluçar!

Essa dificuldade de chorar não afeta o sentir
Afeta o viver, o peso que carregam as que não choram
É o peso de uma vida, sentindo, sem por para fora.
O peito é uma represa, enchendo cada vez mais.

Se sentir é subjetivo. Chorar é material.
A alquimia está feita, transforma-se:
Alegrias, tristezas e dores em lagrimas.
E água esvai-se pelas comportas da face.

Ah, que inveja! Como eu queria...
Transformar tudo isso em alquimia.
Abrir as comportas e deixar vazar
Até o volume morto do peito.

Assim a vida seria mais leve,
Contudo não choro e o peso...
Cada vez mais insuportável...
Espero que as comportas se abram,
Antes que a represa se rompa e o estrago seja feito!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Notas do autor:

É uma pessoa completamente desastrada,
Esbarra nas pessoas e quebra as coisas.
Mas no fundo ela fica bem feliz com isso,
Pois até esbarra nas coisas, mas não quebra pessoas. 

É o tipo de pessoa que caminha descalça
Entre os cacos dos seus sentimentos
E vez ou outra, machuca o coração, mas não se calça
E limpa as lagrimas nas mangas da desilusão.

É uma pessoa que sonha, mas não um sonho seu
Ela sonha, um sonho libertador, no qual, todos podem:
Comer, dançar, cantar, amar, dormir
E também, ter o direito inalienável de sonhar.

Essa pessoa é uma boba.  Dificilmente guarda rancor!
Consegue se preocupar e querer bem  àquelas pessoas
Que lhe fizeram mal e que lhe desejaram mal.

Essa pessoa tem suas lembranças com páginas de livros
Ao sabor do vento, horas caem em páginas alegres
Em outros momentos em páginas tristes, ao acaso.
Mas para ela, as páginas sempre valem à pena serem relidas.

E por fim, essa pessoa escreve poemas,
Dizendo as coisas que sente e que pensa!
Nesse, por exemplo, diz coisas boas de si...
Até porque, as ruins, as pessoas falam por aí!

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Central

O paradoxo materializado no real,
Nada é tão desigual como o centro.
A miséria apresenta-se visceral,
E a riqueza aparece imponente.

Enquanto o chão serve de cama à pobreza
E o frio mata quem tem o firmamento como cobertor.
Apartamentos fechados servem ao capital,
O qual aumenta com a miséria e a dor dos excluídos.

O ar blasé da modernidade ignora o frágil, o dispensável.
O metal frio das construções com seus vidros espelhados
Reflete o movimento acelerado e insensível da vida urbana.

Enquanto isso, nós explorados, passamos apressados,
Pensando na sorte que temos, de não sermos aqueles
Que dormirão cobrindo-se com as estrelas das noites sem chuvas.  

Agora, será que sabemos a diferença entre eles e nós?
Existe? Ou não existe?  A diferença é Deus!
Mas não é o Deus Cristão! É o Deus da Modernidade!

Deus cínico e blasé!  Mas ele não é mais que nós!
Nós que nos dão na garganta ao ver a criança no sinal!
Afinal, a anestesia é desfeita! E como um bom cínico,
Contamos as moedas para pagar a bala!

Tudo volta à normalidade, sejamos nós pródigos ou avarentos!
Continuamos nós, a cruzar o centro, todo dia...
Esbarrando e tropeçando nas pessoas,
Mas nunca sendo realmente tocadas por elas. 

sábado, 9 de julho de 2016

Pra vida

Dois abraços;
Cinco porções de carinho;
Duas porções de cuidado;
Três litros de atenção;
Um quilo de preocupação;
Amor...

Quanto de amor?
Sem medida, por favor!
Ou melhor, quero tudo sem medida...
Aquilo que eu aguente carregar, ou melhor,
Quero até meu corpo transbordar...

Pode ser que encontre no caminho
Quem não tenha, quem já tenha perdido,
Quem tenha sido roubado ou vilipendiado.
Quero distribuir todos os itens da lista. 

O peso para carregar o amor,
A empatia e a reciprocidade pela estrada  
É muito mais leve que a superficialidade
De uma caminhada vazia.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Pronome, verbo e substantivo!

Verbos! Palavras que indicam:
Ação, estado, fenômeno, desejo.
Indica tempo, número e modo.
Verbos... Expressam tantas coisas...

Eu sorri! Eu perdi! Eu lutei.
Eu chorei, eu brinquei, eu caí.
Eu corri, eu venci, eu amei.
Eu saí, eu voltei, eu parti...

Entre as pessoas do verbo,
A que mais faz sentido para mim é o “nós”,
Não os “nós”, substantivo, que aperta a garganta,
Mas o “nós”, que ajuda a lhe dar com os nós da vida!

Com o nós, pronomes, tudo fica melhor e mais fácil!
Cair é ter a certeza, que não estarei sozinho para levantar.
Comemorar... Não comemorarei...  Comemoramos!
Brincamos, sorrimos, gritamos... E por que não, brigamos?

O Verbo... Faz a oração!  
E nela os sujeitos, os adjetivos, os pronomes e os substantivos!         
Substantivo e Adjetivo: Amiga e amigo! 
O verbo ser, observe, não estar! Mas ser!
Nós somos amigos! 
Pronome, verbo e substantivo! Oração!

Amigos são aquelas e aqueles, que, se falam todos os dias,
Amigos são aquelas e aqueles, que, não se falam todos os dias,
Amigos são aquelas e aqueles, que, se preocupam com o outro,
Amigos são aquelas e aqueles, que, são sinceros...
Que quando, queremos ouvir: “vai lá!”, “Você está certo!”,
Diz: “Para!”, “Está fazendo merda!”,“ Vou aí bater na sua cara!”
Ou ainda: “Para de ser bobo!” ou, “Você é muito ingênuo!”

Amigos: substantivo e adjetivo!
Podem ser de anos,De meses ou de vidas!
Mas amigos sempre são, nunca estão! 

terça-feira, 5 de julho de 2016

Morte em vida

A morte é sempre traumática,
Por mais que a pessoa esteja
Enferma e que a partida seja esperada,
A ausência provoca tristeza e dor...
Angústia por não estar com a pessoa querida...  

Porém existem situações piores,
A perda de alguém cheia de vida...
Que é levada de repente...

Sem aviso, sem preparo...
De uma hora para outra,
Abrupta, a pessoa se vai!

Mas, ainda sim, há uma forma pior de perder-se alguém.  
Quando a pessoa morre abrupta e inesperadamente.
Mas, continua viva! Bem ao seu lado. 

É o mesmo da morte inesperada!
É a morte... Violenta, estúpida e egoísta! 
Morte em vida! Mas as vezes a morte, é melhor que a vida! 

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Soneto da Psicanálise

As pulsões e a libido que consome,
As regras e construções que cerceia,
A necessidade de viver a realidade,
A disputa entre o ID, do Superego e do Ego.

A pulsão e a libido, onde estão?
Pré-consciente, consciente ou inconsciente?
No nível, a cima ou abaixo do mar?   
Mas estava aí, em algum lugar!

Vinho. Despedaça-se o Superego!
Muda-se a razão, Ego!
Vence o instinto, Id!

De onde é que seja, surge! Não sei...
Mas vem Instintivo, avassalador e primitivo!
A vontade do prazer, até a satisfação da libido.  

Não culpe a mim, não culpe a si,
Não culpe a embriaguez de vinho.
Culpe a pulsão do Id ou a fragilidade do Ego. 


terça-feira, 28 de junho de 2016

Soneto dois por cinco.

Retângulo: ângulos retos,
Quatro lados paralelos
Dois lados na horizontal,
Outros dois na vertical.

Dois por cinco, o tamanho.
Dentro dele, várias coisas:
Colheres, calor, pratos,
Fumaça, ralador e mudez.

Área pequena com pouco espaço,
Mas ainda cabiam mais duas pessoas,
A distância entre elas? Quilômetros.

O barulho do liquidificar não abafava
O grito ensurdecedor do silêncio
O calor da chapa, não desfazia o gelo.

O quadro do fogão nunca foi tão grande,
Amigos, antes ângulos,
Hoje, desconhecidos paralelos. 

terça-feira, 21 de junho de 2016

Fim da escravidão - 1888, mas e hoje?

O ano é1888, o dia, 13 maio, a notícia: a Princesa Isabel assinava a Lei Áurea. O fato: juridicamente era decretado o fim da escravidão. Os motivos: por pressões externas das potências liberais (entre outras: Inglaterra e EUA) que precisavam construir/ampliar o mercado consumidor, o qual, o trabalho assalariado ajudaria a movimentar a economia de consumo. O resultado fictício: o Brasil abolia a escravidão.

Como resultado de uma elite, intelectualmente e economicamente atrasada, a sociedade brasileira alicerça-se no racismo estrutural e institucionaliza-o. A pseudo liberdade, afirmada na Lei Áurea, não se refletiu em liberdade real, e ainda hoje, recebemos as chibatadas dos senhores em nossas costas. 

A banda “O Rappa” canta: "Todo camburão tem um pouco de navio negreiro", retratando a vida de homens e mulheres, que devido à pigmentação da pele, sofrem diariamente a opressão secular do racismo em uma sociedade estruturada em uma mentalidade escravista, mostrando que só se modernizou, mas que ao senhores e os capitães do mato, continuam presentes. 

Assim, completamos 128 anos, da promulgação da Lei Áurea, contudo o racismo e o preconceito imperam e as políticas afirmativas são nulas, se comprarmos como países como Estados Unidos e África do Sul.

Ao contrário desses países, damos passos à trás, como no dia 13 de maio, desse ano, quando Presidente (Golpista) em exercício da República, extinguiu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, mostrando que as poucas políticas públicas que se estruturam como consequência da luta contra o racismo e da opressão nos vários âmbitos da sociedade brasileira incomoda muito a elite e “class media”, que permanece com o mesmo pensamento retrógado do século passado.

Nesse sentindo, o cinismo do mito racial, apresentando em “Casa Grande e Senzala” ajuda a invisibiliza as opressões e agressões que sofremos diariamente, mascarando o racismo e tornando-o mais difícil de ser combatido.

Em um momento tenebroso, no qual, as 23 pessoas mais importantes do país são: homens, brancos e representantes dos setores mais atrasado da elite nacional, devemos esperar retrocessos e ataques aos conjuntos dos direitos conquistados ao longo da última década, ataques que serão maiores, do que os promovidos pelo Governo do PT/PMDB.

No entanto, outra canção, agora da banda “Nação Zumbi”, nos dá uma pista "d(o) que fazer"(?) (só para lembrar de Lenin, também): “Me organizando, eu posso desorganizar. Da lama Aos Caos, do Caos a Lama!”



"Salve zumbi! Somos todos os Panteras Negras!"



Indícios.

A chaminé vomitando fumaça, 
A contemplação do firmamento estrelado, 
A escrita na madrugada,

São indícios:


De homens trabalhando, 
Do dia que não raiou, 
Do amor que se foi.

Não sou bom em nada.

Não sou bom em nada...
Não danço bem,
Canto pior ainda,
Mas ainda sim tento.

Não escrevo bem...
Rabisco sentimentos.
Tentativas de tradução
De línguas sem compreensão.

Não sou bom em nada...
Então, me esforço em tudo.
Isso me deixa paz...

Paz que se vai,
Frente às desigualdades desse mundo.
O que me resta? Lutar...

Mas, não sou bom em nada,
Isso me faz bom em uma coisa...
Em não desistir de tentar,
O que quero mudar.

O Sonho.

Acordo atrasado, ainda e noite
A lua ainda brilha
E o galo canta.

Na esquina trabalhadores
Vestido com suas camas
E encorajados pela necessidade.

Ainda é noite, mas não durmo...
No calor aconchegante, cochilo.
Acordo assustado
Com ninar do coletivo lotado.

A essa altura, já é dia!
Nos rostos, os sonhos
De quem não aguenta mais
Ser tratado como coisa.

Oh, povo valente, não desiste!
Pois significaria deixar existir.
Entre um dia e outro, poucas horas
De sono mal dormido.

Mas sonhamos o dia
Em que o capital,
Não atrapalhe o sono,
Mas enquanto isso...

Lutaremoas acordado
para o dia em que o labor
Não será um fardo,
E sim, nos humanize. 

Coragem

Não tive coragem de ler;
Não tive coragem de escrever; 
Não tive coragem de morrer;
Por isso, vou fazer quase tudo isso!

Hoje sei que a coragem não estava em morrer
Ela está em viver todos os dias, sabendo quê: 
Pessoas não comem, não têm lar, não são vistas, 
São abusadas, são maltratadas e são mortas. 

Viverei para ler e para escrever, esse e outros. 
Viverei para sorrir, para chorar e para amar, 
Viverei para me reinventar, para me solidarizar. 

A coragem está em mantemo-nos vivos, 
Desajustados, sensíveis e empáticos nesse mundo. 
A coragem não é descansar com os mortos, e sim, lutar com os vivos.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Será que queremos?

As relações humanas estão cada vez mais fugazes e superficiais, é isso o que mais escuto nos últimos tempos, em um tom de reprovação e desânimo. Eu concordo e ouso afirmar, que não só as relações afetivas, nas quais, as pessoas se relacionam sexualmente, mas também, nas relações afetivas de amizade, em que esse contato físico não existe. A pergunta que aparece é: Apesar de reclamarmos, será que estamos dispostos a abrir mão da facilidade das relações superficiais e investir em relações profundas e significativas?

Uma das principais características da modernidade é velocidade, o encurtamento do espaço/tempo, permitindo assim, que a comunicação aconteça cada vez mais rápida. Isso não seria um problema, se uma das outras características da modernidade, não fosse o consumismo desenfreado de uma sociedade capitalista e selvagem.

Esses dois elementos influenciam cada vez mais na construção das relações humanas. O Sociólogo Alemão, Simmel, nos ajuda a pensar com duas afirmações, a primeira, que o Deus da modernidade é o dinheiro. A segunda, diz respeito ao flerte, como marca da sociedade urbana, pois com o aumento da circulação das pessoas e relação do tempo nas grandes cidades tornou-se cada vez mais dinâmico e o contato com as pessoas tornava-se  cada vez mias fugazes;  um simples trocar de olhares, um sorriso ao cruzar os caminhos, relações que nunca passariam disso, contudo é importante ressaltar que Simmel faleceu em 1918.

O passar do tempo só aprofundou esses dois elementos. Quero chamar atenção à ideia do flerte agora, pois esses encontros ocorriam no corre-corre dos grandes centros urbanos, um lugar concreto, onde as pessoas se olhavam, dependendo da distancia sentiam seus cheiros, e/ou ainda se esbarravam.

Hoje os flertes ocorrem de forma ainda mais efêmeras, no conforto da cama ou do sofá enquanto se assiste a um filme ou se conversa com amigos. Entre o "X" e o “coração”, na verdade o botão do descarte ou do consumo. A tecnologia permitiu que o flerte dos grandes centros urbanos, e se deslocasse para o espaço da virtualidade, no qual, as pessoas não necessitam estarem conectadas para que o flerte ocorra, apenas, georreferenciadas.

Do outro lado, as relações sociais cada vez mais mediadas pelo dinheiro apontam para níveis de consumo cada vez maior. O problema mais grave! Não consumimos somente coisas, agora consumimos pessoas e as descartamos com mais facilidade do que os objetos.

Esse grande cardápio virtual de pessoas, aliado a um espírito de consumo voraz, torna as relações cada vez mais efêmeras e rasas. Sobre isso, Bauman nos diz sobre a dificuldade de abrirmos mão das inúmeras possibilidades de relações, na lógica do consumo e do descarte para investir na construção de relações profundas e com sentido.
O importante e triste é que não me refiro só às relações afetivas entre casais, me refiro também às relações de amizade, pois ambas necessitam de tempo e cuidado no seu cultivo para que possam florescer.

Nesse sentindo, temos que perguntar a nós: realmente estamos prontos para construir as relações que dizemos querer? Estamos pronto para abrir mão do utilitarismo e construirmos relações intensas e profundas?

As relações e a compreensão delas, estão tão superficiais, que as declarações de amor, na maioria das vezes, são vistas como démodé entre os casais (com exceção do Dia dos Namorados e datas comemorativas) e impossíveis de acontecerem entre amigos, caso não haja algum envolvimento sexual.

Temos que regar o terreno para que esteja sempre fértil, a fim de cultivarmos novas relações, as quais germinem, cresçam durante o outono e o inverno e possam florescer em amor na primavera. Hoje tenho a alegria de poder dizer: “Eu te amo” com frequência às pessoas que amo. E o mais importante não é somente dizer é poder demonstrar.

É claro, que não afirmo que seja fácil e nem indolor, pois concordo que às relações estão cada vez mais baseadas na coisificação do outro, no consumismo e no descarte. Propori-se-a estar no mundo de outra forma, é estar disposto a se machucar e se magoar! Mas é também poder contar com aquelas pessoas que constroem relações profundas e mútuas para não deixar o jardim da vida ressacar e morrer, permitindo que não só floresça “marias” e Margaridas, mas também Lírios, Rosas e Jasmins e tantas outras flores possíveis. 

Angústia.

A cama, o local de descanso e alento,
Mas quando deito e o sono desaparece
Eu sei o que há de errado, esse pensamento...
Há dias não me deixa e essa noite já o pertence.


A sensação de impotência me paralisa.
Faz-me andar em círculos pelo apartamento.
Só não dou mais voltas do que minha cabeça!
Ah, essa pobre, gira, gira e não sai do lugar.

Cria cenários, vários, mas como de costume...
Apego-me aos piores, acredito no conforto...
O conforto da tragédia anunciada e esperada.

Mitigada pela certeza do desastre...
Experiências de vidas passadas? Que nada!
Muitos tropeços na mesma vida errante, que provoca:

A angústia pela distancia do outro,
A agonia pelo silêncio do outro,
A aflição pela ausência do outro.

O triste é saber que o problema não é o outro. Sou eu!
Mas o que fazer com esse pensamento que me consome
Durante do dia e não deixa dormir durante a noite?


Organizo-o em caixas e prateleiras durante o dia,
Racionalizo, cada qual no seu lugar, cada sentimento
Na prateleira de acordo aos cenários construídos.

Assim, as horas passam e o dia se vai.
Dias que não me pertencem, pois têm sido
Roubados e furtados sistematicamente. 


E assim a noite chega, sem que o dia tenha passado, 

E na hora do descanso e do alento,
Os pensamentos pulam das caixas e voam das prateleiras. 


A confusão, a agonia, o aperto no peito... 

Mais uma noite será roubada, mas nessa será diferente
Não rolarei inutilmente de um lado ao outro da cama.

Essa noite haverá disputa! Não será fácil.
A luta entre a angústia e a poesia,
Entre o branco do papel e o caos do pensamento.

Mas como escreveria Deleuze e Guattari,
O caos é potência, é vida! E certamente sem o caos
Esses sentimentos não estariam no papel
E estaria eu, em um sono de calmaria!

Tolerância = EU NÃO ACEITO, MAS EM UM ATO DE SUPERIORIDADE, EU DESCULPO/PERDOU, POIS EU NÃO POSSO MUDAR ISSO EM VOCÊ!

O ataque em Orlando a pessoas homossexuais, com 50 mortos e 53 feridos, chocas, entristece, sensibiliza e recoloca o debate da homofobia ao conjunto da sociedade. O Brasil nunca esteve tão próximo de Orlando, quando hoje.

No Brasil, a cada hora uma pessoa homossexual é agredida, havendo quase 01 morte por dia (326 mortes em 2014, 318 mortes em 2015). Além de solidarizarmos e entristecermos com ocorrido em Orlando, temos a obrigação de discutir e polemizar a questão.

Em quando acharmos normal “tolerar” pessoas pela sua religião, pele sua etnia, cor de pele ou por sua orientação sexual, continuaremos a assistir esses espetáculos de violência gratuita, nessa sociedade, a qual é completamente e cada vez mais desumana.

Nesse contexto social, a utilização do termo: “tolerância” parece um avanço enorme, quando na verdade ele camufla o preconceito, pois trata de um ato de indulgência (que significa: disposição para perdoar culpas ou erros; clemência, misericórdia, absolvição de pena, ofensa ou dívida; desculpa, perdão) de que não se quer ou não se pude mudar. Isso significa dizer que ser tolerante à homossexualidade é: EU NÃO ACEITO A ORIENTAÇÃO SEXUAL, MAS EM UM ATO DE SUPERIORIDADE, EU DESCULPO/PERDOU, POIS EU NÃO POSSO MUDAR ISSO EM VOCÊ!

O problema que indulgências, clemências e misericórdias são caridade e não direito. Isso significa que a qualquer momento pode ser retiradas e quando alguém não tolera mais ela pode matar 50 pessoas de uma vez, ou ainda, matar em doses homeopáticas, uma por dia como acontece no Brasil.

Não devemos tolerar, devemos tratar todas as diferenças no campo do direito, no qual, somos todas e todos iguais (ou deveríamos ser). E antes de reclamar do politicamente correto, pergunte-se: Quanto a sua a homofobia mata por dia? Quanto o seu racismo mata por dia? Quanto o nosso machismo mata por dia? 

Depois e só depois, pense em questionar sobre o posicionamento político das pessoas e dos movimentos sociais. “Lutar peal igualdade sempre que as diferenças nos discriminem, lutar pelas diferenças sempre que a igualdade nos descaracterize.”

Quem diria!

As pessoas dizem ter borboletas na barriga...
Já as minhas, ficam alojadas no peito,
Entre o ar e o sangue, isso, bem ali!

Ah, e quando aparecem, causam uma confusão tamanha!
Mas quem diria que elas iriam voltar a voar aqui,
Habitar um espaço que outrora não havia flores e que a vida findava.

E elas, as borboletas, me fizeram experimentar, 
O peso que suas assas trazem, e junto, descobri,
Que dieta ou corrida no mundo é capaz de diminuir esse peso,
A areia que cai da ampulheta, só isso, deixa à vida mais leve. 

Mas essas borboletas... Nunca foram minhas amigas!
O balé das suas assas no peito, provoca uma angústia
Sempre trazendo indagações... Como essa...
Trocaria uma amizade por uma noite?

Como trocar um abraço carinhoso e um choro empático,
Uma música, conversas densas e sorrisos por uma noite?
Isso não cabe em uma noite, precisam de noites e dias.
Isso cabe em uma vida, cabe nos afetos, cabe nos cuidados.

Como trocar tudo isso por uma noite?
Por que trocar a construção de uma amizade
Pela efemeridade de uma noite?
Ah, essa angustia...

Malditas borboletas que não me trazem paz...
Mas me trazem vida,
Assim, do jeito que ela sempre existiu para mim, 
Incômoda, truculenta e intensa!
x

Boemia.

Hoje a noite foi da Lua,
Saiu sem hora de voltar,
Dançou com o véu do firmamento

Caiu bebendo com as estrelas.

E quando todas se foram,
Só ela se manteve de pé,
E bebendo mais uma dose,
Viu ao longe, aproximar-se o Sol.


Então entendeu que seria a saideira
Bebeu de uma vez sua dose,
Mas pensou na enorme besteira.

Quem disse que tenho que ir?
Hoje terá noite com Sol,
Ou dia com Lua!